Almoço do American Club

Anne, obrigado pelas suas palavras.

Antes de começar gostaria de assinalar a presença do Presidente do American Club of Lisbon, John Scott Johnson, do Presidente da Câmara de Comércio Americana em Portugal, José Joaquim Oliveira, e do Presidente da Associação de Amizade Portugal-Estados Unidos, António Neto da Silva.

Agradeço a todos por este grupo dos melhores e mais brilhantes de ambos os lados do Atlântico. Os Estados Unidos e Portugal são grandes amigos e aliados, mas as verdadeiras amizades pessoais só surgem deste tipo de interacção cara a cara. Agradeço também a todos os patrocinadores. Muito obrigado a todos. Sinto-me muito honrado por estar nesta sala, nesta cidade e neste país. Muitas vezes me perguntam como é que me tornei Embaixador dos EUA em Portugal. A resposta é fácil: eu pedi. Porquê? Parte da razão está na minha própria história. Tendo crescido na região sudeste de Massachusetts, onde vive uma grande e activa comunidade portuguesa, muito cedo aprendi que partilhamos os mesmos valores: trabalho, família e tolerância. Uma outra razão é a história do país. Portugal é um país antigo com um povo que em tempos traçou o futuro do mundo. Acredito que possa fazê-lo de novo.

De manhã gosto de correr e às vezes vou correr junto ao Tejo até à Torre de Belém. Não importa as vezes que lá passo, sinto-me sempre assombrado pelo facto de cinco séculos antes, exactamente daquele lugar, terem partido os primeiros exploradores marítimos.

Estes aventureiros, de uma coragem sem limites e incríveis conhecimentos de navegação, partiram para águas profundas, escuras e desconhecidas. Venceram o medo, dominaram os mares hostis e conquistaram o desconhecido – descobrindo novos mundos e novas oportunidades. Os portugueses são os herdeiros desta grande história. No vosso coração vive a bravura de Fernão de Magalhães e na vossa alma vive o espírito de Luís de Camões.

Tal como os vossos antepassados, hoje enfrentais grandes desafios. Maus ventos da economia varreram este país, todo o continente aliás. Ondas de dívidas abalaram os alicerces da vossa economia. O governo fez escolhas difíceis – muitas vezes impopulares – mas a crise económica estabilizou. Portugal saiu do resgate pelo seu pé.

Mas embora Portugal tenha resistido ao pior da tempestade, há um rasto de prejuízos. Empresas fecharam, o acesso ao capital desapareceu, muitos perderam o emprego – o desemprego entre os jovens é perigosamente alto. As pessoas ainda estão a sofrer por isso há mais trabalho a fazer. Mas para Portugal vencer terá de ultrapassar uma crise ainda mais pérfida e debilitante que aquela por que passou. E essa é a crise da confiança que abandona este país.

Há quinhentos anos, nem Vasco da Gama nem o Infante D. Henrique dispunham de ferramentas sofisticadas – não havia GPS ou rádio por satélite. Nem mapas fiáveis existiam. Apenas tinham as estrelas lá no alto para os guiar. Só que eles tinham uma vontade suprema de vencer e a inabalável confiança de o conseguir. E assim foi. A história deles é reverenciada em todos os livros de história de todos os países do mundo.

Mas hoje a história que se conta de Portugal é diferente e mais triste. Nas dez semanas que aqui estou o que tenho ouvido repetidamente é que Portugal não faz parte da cena económica mundial. E que a próxima geração de portugueses em vez de aumentar deve baixar as suas expectativas.

Há duas semanas fiz um pequeno discurso numa incubadora aqui em Lisboa – um sítio a abarrotar de inovação – e fizeram-me algumas perguntas. A primeira pergunta que me fizeram veio de um jornalista de economia que disse: “É verdade que os americanos têm uma opinião negativa de Portugal?” A minha resposta foi: “Não, os portugueses é que têm uma opinião negativa de Portugal. Os americanos não conhecem Portugal.”

Este tipo de pessimismo é doentio. Mas assombra todo o empresário, político e cidadão português. É replicado pelos jornalistas na imprensa portuguesa e vejo-o em grafittis ofensivos nas paredes dos prédios. E é o que ouço quando falo com portugueses sobre oportunidades comerciais: “Não podemos fazer isso porque somos um pequeno país.” Ou “Só conseguimos vender aos portugueses nos Estados Unidos porque mais ninguém compra os nossos produtos.”

Há até uma palavra portuguesa, Sebastianismo, que se refere a D. Sebastião, o jovem rei do século XV em quem o país depositava toda a esperança e que levou 17.000 portugueses numa cruzada para conquistar Marrocos, mas o seu exército foi derrotado e ele morreu na batalha. Ficou conhecido como “O Desejado”, uma palavra que traduz o desejo que D. Sebastião regresse e salve Portugal nas suas horas difíceis.

A prosperidade não chega a Portugal por milagre. Chega através da força interior do seu povo – a vontade de vencer como os descobridores venceram e a confiança para o fazer. A mentalidade colectiva nacional tem de mudar do “não conseguimos” para “conseguimos”. E há tantas coisas importantes que Portugal pode fazer. Existem tantas oportunidades aqui e agora.

No fim de semana estive a jogar golfe no Estoril. O campo, junto ao mar, é tão bonito como os melhores dos E.U.A. Os americanos gostam de jogar golfe e viajam para jogar. Mas não sabem que Portugal é o melhor destino de golfe da Europa. E também não sabem que em Portugal ficam algumas das mais bonitas praias do mundo – duas delas no top 10 europeu – cidades com muralhas medievais, imponentes ruínas romanas, vinhos fabulosos e queijos deliciosos. Juntem a tudo isso temperaturas amenas, dias de sol como em Palm Beach e Los Angeles e teríamos multidões de turistas americanos a chegar aqui. Mas não temos. Foi exactamente isto que disse a alguém do ministério do turismo que me respondeu: “Somos um país pequeno, não temos meios para fazer publicidade nos Estados Unidos.”

Pondo de lado o facto de haver muitos países pequenos que fazem promoções bem sucedidas nos E.U.A., há outra maneira que custa muito pouco que é a força das redes sociais. Nos Estados Unidos agora vendemos tudo desde um sabonete a candidatos presidenciais recorrendo às redes sociais. A teoria é simples. Se eu disser a um amigo que gosto de um produto, ou de um local de férias isso é muito mais persuasivo do que ver um anúncio genérico.

Eu experimentei essa força em primeira mão. Mandei um galo de Barcelos a Steve Pagliuca, o dono dos Boston Celtics para dar sorte no sorteio da NBA, isto deu origem a um pequeno blog nos EUA que foi apanhado no Twitter e retweeted e que acabou por resultar em mais de 40 artigos nos media americanos todos fazendo referência a Portugal e muitos contando a lenda do Galo de Barcelos. A atenção que o Galo mereceu não estava nada planeada. Talvez tenha sido pura sorte ou talvez D. Sebastião tenha voltado porque Portugal vai ter uma oportunidade ainda mais espantosa em Março.

Tenho estado a trabalhar com o Kennedy Center, em Washington, o primeiro centro cultural do país que vai dedicar três semanas em Março do ano que vem a um festival sobre Portugal e Espanha. Vamos ter exposições, filmes, literatura, dança, arquitectura, gastronomia e produtos dando a conhecer as raízes culturais de Portugal e Espanha que se espalharam pelo mundo. O Fado vai à América!!

O Kennedy Center já recebeu exposições semelhantes do Japão, Índia e cinco países nórdicos. Foram 400.000 os que se deslocaram ao Centro para os festivais e a campanha nos media chegou a 7 milhões de pessoas.

É preciso trabalho para fazer dum evento destes uma realidade. Parte dos fundos angariados para o programa terá de vir de patrocinadores empresariais portugueses e do governo português. Mas em termos de marketing, esta é uma oportunidade fantástica para falar de Portugal aos EUA.

Deixando agora o turismo, estou aqui para vos dizer que também vejo o regresso de D. Sebastião na nova geração de jovens líderes tanto no governo como na economia em áreas como a energia, ambiente e empreendedorismo que me diz que Portugal faz de facto parte da cena económica mundial. Não o vejo apenas com clareza, vejo-o a cores.

A primeira cor que vejo é o verde. Portugal já é líder mundial em tecnologia verde e energias limpas. Encontrei-me com o Ministro do Ambiente, Planeamento e Energia, Jorge Moreira da Silva. Ele vê Portugal como líder na exportação de energias renováveis. Prevê que Portugal vai ser inovador no aproveitamento da força da energia das ondas do mesmo modo que a Dinamarca foi pioneira na energia eólica. Vê o país como uma possível solução para a segurança energética da Europa, não apenas pela exportação de energias renováveis, mas pela utilização do porto de Sines e o trabalho de aliança já existente com Espanha como central europeia de distribuição de GNL, tornando os países europeus menos dependentes do gás russo e criando um mercado de energia mais competitivo. Quando nos encontrámos, o Ministro estava de partida para Washington onde se ia encontrar com o Secretário da Energia americano Moniz para falar sobre o plano de Crescimento Verde. Ele não se limita a falar, ele faz.

A segunda cor que vejo é o azul. Tive uma reunião com a Ministra da Agricultura, Assunção Cristas, que está a trabalhar no sentido de aproveitar o potencial económico da vasta costa portuguesa. Está concentrada na criação de uma economia azul para o país, o que envolve a comercialização dos recursos vivos e inertes, desde a exploração de minerais debaixo de água à recolha de materiais orgânicos para o sector das ciências biológicas. Também ela esteve recentemente em Washington para falar na Conferência dos Oceanos do Secretário de Estado Kerry, porque tanto Portugal como os Estados Unidos têm os oceanos como prioridade.

Portugal pretende alargar a sua zona económica marítima. Uma zona mais extensa multiplicaria as oportunidades comerciais. Mas há quem se preocupe porque o país não dispõe dos barcos necessários para patrulhar uma zona maior ou levar a cabo a exploração oceanográfica.

Mas, mais uma vez, a solução para esse problema poderá existir já e aqui em Portugal. Estive com uma equipa de investigadores da Universidade do Porto que, com o apoio de cientistas americanos, desenvolveu drones subaquáticos de baixo custo. Estes drones, que parecem torpedos, funcionam a pilhas e comunicam uns com os outros e com uma central através de tecnologia de satélite. Já estão a ser testados no Algarve para monitorizar a migração de um determinado peixe. Em vez de grandes barcos, do mais recente que há e portanto dispendiosos, os drones feitos em Portugal podem ser utilizados em projectos de mapeamento subaquático e para manutenção da segurança marítima – não apenas em Portugal mas em qualquer país do mundo junto ao oceano.

As pessoas que lançaram esta empresa de tecnologia de drones subaquáticos são exemplo de uma nova geração de exploradores e aventureiros portugueses. Já não cruzam o Atlântico em caravelas, mas são pessoas que correm riscos confiantes na força das suas ideias. Chamam-se empreendedores.

Uma autoridade de respeito como o MIT, que tem um programa em Portugal, afirma que a mais alta qualidade na inovação e tecnologia saída das universidades portuguesas é igual à de qualquer universidade americana.

Já visitei em Lisboa incubadoras e aceleradoras de inovação e vi em primeira mão o crescimento do sector tecnológico em Portugal. Desde o desenvolvimento de serviços educativos online no sul à investigação no campo da nanotecnologia no norte. As soluções já estão cá. Esta nova economia não só cria emprego, mas também motiva os jovens de valor a ficar e inovar. E como é que os Estados Unidos podem ajudar? De duas maneiras.

Primeiro, a descoberta pode estar no vosso ADN, mas o empreendedorismo está no nosso. A noção de correr riscos ainda não está enraizada na cultura portuguesa – aliás o falhanço carrega um estigma. Por isso embora haja uma forte inovação, não há um sistema de capital de risco activo em Portugal que apoie o crescimento dessas empresas.

Já trouxe a Portugal investidores de capital de risco americanos para iniciar o processo de formação e mentoring. Em Agosto, um jovem director português de uma empresa de capital de risco vai passar um mês numa firma americana da especialidade a aprender avaliação de risco e estratégia de investimento. Para o mês que vem, vou trazer a Portugal uma delegação de empresários e investidores americanos. Trata-se de uma viagem patrocinada pelo Departamento de Estado e organizada pela nossa embaixada aqui em Lisboa. Dois países foram seleccionados para esta ronda: a delegação esteve na Grécia em Abril e virá e Portugal em Julho. O grupo vai visitar Lisboa, Aveiro e Porto. Vão encontrar-se com entidades do governo e angel investors para discutir o clima de investimento em Portugal. Também vão dar sessões de mentoring a empresários fazer uma conferência para startups. O mais importante será o contacto de empresários e investidores americanos de sucesso com inovadores portugueses. Em segundo lugar, podemos abrir mercados para os produtos portugueses nos Estados Unidos se trabalharmos juntos na defesa da Parceria de Investimento e Comércio Transatlântica ou TTIP que é a primeira prioridade do Presidente Obama em termos comerciais.

Esta iniciativa, que está a ser negociada com a UE e é fortemente apoiada pelo governo português, visa baixar as tarifas e reduzir as barreiras comerciais. Os beneficiários serão principalmente as pequenas e médias empresas – que em Portugal representam mais de 95%.

As grandes empresas arranjam sempre maneira de competir. As pequenas empresas é que carecem de apoio realmente. TTIP irá ajudar estas pequenas empresas portuguesas a entrar num mercado de mais de 350 milhões de americanos. Isto irá ser somado aos 13 milhões de empregos já apoiados pelo comércio transatlântico. Portanto a minha resposta à pergunta se Portugal faz parte da cena económica mundial é um rotundo sim. Este é um grande país onde estão a acontecer grandes coisas. Portugal não precisa do regresso de D. Sebastião. D. Sebastião está cá. Com um renovado espírito de confiança e recorrendo à experiência de velhos aliados como os Estados Unidos, Portugal deverá mais uma vez tomar o seu lugar na delineação do futuro do mundo. Muito obrigado.