Inauguração do Queer Lisboa

Boa noite a todos.

Gostaria de começar por agradecer ao director do festival de cinema Queer, João Ferreira, e ao dramaturgo André Murraças pelo convite para vir aqui falar neste lindo e emotivo tributo às 49 pessoas que morreram no massacre de 12 de Junho em Orlando.

Estava na minha cidade, Boston, quando soube do terrível ataque na Florida de que resultaram 100 pessoas mortas e feridas. Tinha chegado horas antes no voo inaugural da TAP entre Lisboa e Boston e esperava passar dois dias agradáveis com a família e os amigos.

Mas ao ver na CNN as imagens da devastação em Orlando, a minha alma e o meu coração caíram. Imediatamente me vieram à memória os trágicos acontecimentos de três anos antes, quando indivíduos movidos pelo ódio atacaram a Maratona de Boston de 2013, colocando explosivos a pouca distância da minha casa. Em ambos os casos a ideia era atingir locais onde as pessoas se sentem seguras e incutir o medo.

Pulse era um lugar onde as pessoas podiam ser elas próprias. Naquela noite, homens e mulheres, jovens e menos jovens saíram para ouvir música latina, dançar e celebrar o mês do Orgulho. Estavam a exercer as liberdades que todos os americanos, pessoas em todo o mundo, deviam ter. Queriam simplesmente estar juntos tranquilamente e tentar serem felizes. Mas a fúria e o medo de um homem custaram a vida de 49 vítimas inocentes e mais 50 feridos. As famílias ficaram devastadas e foi uma perda tremenda.

Apesar de tudo, do horror e morte de Orlando começaram a surgir imagens e histórias poderosas, histórias de vida das vítimas, histórias de amor e compaixão, de unidade e preocupação. Soubemos de pessoas que arriscaram a vida para ajudar amigos e estranhos da mesma forma. Vimos imagens de gente preocupada com os outros e abraçando estranhos para lhes dar o conforto de que careciam. Também nos sentimos confortados com o enorme amor e apoio que chegou a Orlando de comunidades de todo o mundo.

Apesar de todo o progresso registado tanto nos Estados Unidos como Portugal no que se refere à defesa da igualdade de direitos de pessoas LGBTI, tragédias como a de Orlando são alertas sérios e cruéis de que, não obstante os consideráveis avanços, ainda há muito a fazer para eliminar a xenofobia e intolerância das nossas sociedades – de todas as sociedades.

Gostaria de referir que esta peça pode ser representada em Portugal ao passo que em certos países seria praticamente impossível – uma homenagem à tolerância e compreensão deste país.

Os valores fundamentais da igualdade e dignidade que definem os nossos dois países não estão totalmente a salvo. Quando o medo e a raiva conseguem entrar na nossa sociedade ficamos todos em risco, vi isso de perto em Boston, todos vimos isso em Orlando. Temo-lo visto repetidamente na história da humanidade e é preciso que estejamos vigilantes.

Todos nós somos chamados a defender a nossa humanidade e os nossos direitos não apenas através da retórica mas também através de acções. O Presidente Obama fez da defesa dos direitos LGBTI uma prioridade da sua administração e nós, na Embaixada Americana em Lisboa, estamos empenhados em continuar a trabalhar com os nossos parceiros portugueses para defender esse esforço.

Seja colaborando com a ILGA no apoio à Marcha do Orgulho Gay em Lisboa ou aparecendo num vídeo do YouTube para a Tudo Vai Melhorar, espero que seja claro que tanto como Embaixador dos Estados Unidos, como representante oficial do Presidente Obama em Portugal, como simplesmente Bob Sherman, um advogado de Boston, apoio firmemente a comunidade LGBTI em Portugal.

Gostaria de reafirmar que os direitos LGBTI são direitos humanos e os direitos humanos são direitos LGBTI e todos beneficiamos quando esses direitos são respeitados e protegidos.

André, obrigado pelo teu trabalho, por teres usado a arte para tornar uma tragédia numa experiência de humanidade partilhada. Foi uma linda homenagem aos que morreram e uma chamada de atenção para o trabalho que há para fazer, para aqueles de nós que tentam vencer o medo e defender os direitos humanos.

Thank you.  Boa noite Obrigado.