Muito obrigado pela gentil apresentação, Marco (Bravo). Gostaria também de agradecer aos organizadores da Texas-UE Business Summit por terem elaborado este programa de excelência.
Sendo natural de Boston, estou bem ciente da ligação entre Boston e Austin estabelecida pela primeira vez em 1960, quando John Kennedy chamou Lyndon Johnson para seu número dois na Convenção Democrata de 1960. Vão ter que me desculpar, mas a melhor equipa americana de futebol está em Boston com os New England Patriots e não aqui em Dallas!
Boston, Massachusetts sempre foi símbolo da fundação da nossa nação e da sua história; Texas, a sua fronteira e o seu futuro. Hoje as nossas cidades são dois polos importantes, unidos pela inovação. Ambas produzem tecnologia de ponta- tecnologia disruptiva- em sistemas de informação e biociências que não só está mudar o mundo à nossa volta, como também a inovar o modo como o ser humano vive no nosso planeta.
É por isso que me sinto honrado por estar aqui hoje perante vós. Esta é a minha primeira vez em Austin. Desde que saí do avião que senti o pulsar desta cidade com a paixão dos jovens empresários. E não há melhor lugar para captar essa energia do que UT / Austin.
Agora, tendo em conta o tema do evento de hoje, estou obviamente aqui para falar de negócios. Impulsionar negócios, ou comércio e investimento – entre os Estados Unidos e Portugal, tem sido a minha prioridade número um desde que cheguei a Lisboa há pouco mais de dois anos.
Um dos grandes objectivos é promover o acordo comercial entre EUA-UE – que irei abordar mais tarde, porque é realmente de grande importância. Mas aqui, nesta cidade e neste estado – ainda sob o efeito do Festival South by Southwest – vou começar por falar de unicórnios.
Quando era jovem, como muitos de vocês aqui na plateia, pensava que um unicórnio era um cavalo mítico com um chifre em espiral a sair da testa. Uma criatura de conto de fadas.
Hoje, como provavelmente todos sabem, a palavra significa algo muito diferente, especialmente em lugares como Austin, Silicon Valley, Boston e Nova Iorque. Se ainda não pesquisaram no Google, um “unicórnio” é livremente definido como uma start-up avaliada em 1000 milhões de dólares ou mais. Estamos a falar de milhões. Há no mundo 174 empresas que chegaram ao nível de “unicorn”. Posto isto, parece que afinal os unicórnios são reais e estão a multiplicar-se. Fazem de tudo, desde a venda de óculos on-line ao lançamento de foguetões para abastecer a Estação Espacial Internacional.
A grande maioria destas start-ups estão sediadas nos EUA – 101 para ser exacto, incluindo a Mozido aqui em Austin. A China posiciona-se num distante segundo lugar com 36. E a Europa colectivamente tem apenas 18.
Isto não deve ser uma surpresa. Uma grande parte da razão pela qual tantos destes unicórnios nascem aqui ou mudam-se para cá é o espírito americano de empreendedorismo. Nós somos de correr riscos, somos aventureiros. Não precisamos de mais provas dos frutos do nosso espírito do que esta resplandecente cidade em que nos encontramos.
Por isso, não dêem ouvidos aos derrotistas do mundo político ou económico que lamentam o declínio dos EUA como inovador tecnológico e potência económica. Os números não mentem.
Portanto, se um unicórnio é algo que é verdadeiramente especial e raro, os EUA são uma nação unicórnio. Somos muito bons a criar empresas excepcionais. Esta tem sido a nossa história. Walt Disney construiu a sua empresa de sonho em torno de um rato. E depois, Steve Jobs levou o conceito do ‘rato’ a um nível que até desafiou a imaginação do próprio Walt Disney. E por aí em diante.
Porque o nosso espírito empreendedor é contagioso. Empreendedorismo é uma expressão de desejo universal de propriedade e autodeterminação. Onde quer que eu vá, de Austin a Boston, de Lisboa a Londres, conheço pessoas que estão prontas para começar algo da sua autoria.
Esta é uma nova geração que transborda de ideias, que está pronta a moldar o seu próprio destino. Em vez de ideologias de violência ou de divisão, este espírito de autodeterminação pode preencher o vazio que existe nos jovens que não vêem um futuro para eles próprios.
Mas também existem grandes obstáculos. É difícil ter acesso a capital. É difícil ter o treino e adquirir as competências necessárias para gerir um negócio. É difícil construir uma network de mentores e motivadores que podem significar a diferença entre o sucesso do empreendimento e o seu falhanço. É difícil perseverar, mas é necessário. Até em empresas de sucesso leva tempo a fazer uma ideia funcionar.
Por exemplo X, anteriormente conhecida como Google X. Os funcionários são incentivados para “matar projectos” e inventar outros de seguida. Eric “Astro” Teller, director do laboratório de X resumiu isto da melhor maneira quando disse: “O cepticismo entusiasta não é o inimigo do optimismo ilimitado mas antes o seu parceiro ideal. ”
Assim, e de muitas maneiras – e os empresários aqui presentes sabem disto – o ambiente para alcançar o sucesso é importante.
É aqui que o governo tem de actuar – isto é, pessoas como eu e muitos daqueles que estão aqui hoje – podem ajudar. Eu sou embaixador, por isso vou falar sobre o que a nossa política externa está fazer para ajudar as empresas.
Podem achar estranho que um diplomata venha falar sobre a criação de empresas e a sua promoção. O facto é que a economia e as forças de mercado estão no centro da política externa dos E.U.A.
A influência de uma nação já não é medida pelo tamanho do seu exército, mas pela força da sua economia. E usando a diplomacia económica para aumentar o emprego e a competitividade internamente e também reforçar as nossas alianças – e os nossos aliados mais fieis sempre estiveram na Europa – é vital para a liderança mundial dos Estados Unidos.
Então, como podem os governos envolver-se? Primeiro, temos uma extraordinária capacidade de criar redes. Nós conseguimos por em contacto o próximo Mark Zuckerberg ou Elon Musk com o mentor certo, ou apresentar o investidor indicado. Costumo dizer que o meu maior poder como embaixador é o poder de reunir. As pessoas respondem às minhas chamadas e reagem aos meus pedidos. Procuramos dar prioridade a recursos que ajudam aqueles empresários que as sociedades têm impedido de avançar.
Em Portugal, por exemplo, a minha mulher, Kim Sawyer, uma empreendedora premiada, criou o programa da Embaixada chamado ‘Connect to Success’, que se foca em dar mentoria a mulheres empresárias. Há quarenta anos, as mulheres portuguesas não podiam votar, nem viajar sem a autorização do marido.
Agora, existem mais mulheres do que homens com doutoramentos e MBAs e estão a começar a criar empresas. Mas não tiveram o sistema de apoio tradicional para criar as suas empresas.
Foi por esta razão que criámos um programa de corporate mentoring, um programa de MBA de consultoria, onde equipas de estudantes de MBA agarram em projectos de empresas detidas por mulheres e organizam workshops sem qualquer custo. Estamos a entrar no nosso segundo ano e já ajudámos mais de 600 empreendedoras em Portugal.
O Presidente Obama reuniu, o ano passado, a conferência ‘Global Entrepreneurship Summit” no Quénia – a propósito, 3 das 120 empresas seleccionadas pela Casa Branca para estarem presentes pertencem ao nosso “Connect to Success.” Foi altura para revelarmos o nosso próprio unicórnio: mais de 1000 milhões de dólares em novos compromissos da parte de bancos, fundações e filantropos para ajudar jovens e mulheres empreendedores de todo o mundo.
Este ano, a sétima edição do “Global Entrepreneurship Summit” vai realizar-se em Silicon Valley. Os melhores inovadores, empreendedores sociais e investidores do mundo vão ter, em Junho, a oportunidade de se conhecerem cara-a-cara, trocar/comparar notas e ideias, e possivelmente tornar as suas ideias realidade.
Mais para o fim do ano, Lisboa vai ser anfitriã da edição de 2016 do Web Summit – o grande evento europeu para start-ups tecnológicas – que conta com milhares de participantes vindos de mais de uma centena de países. A Embaixada dos EUA vai estar fortemente envolvida, com o principal objectivo de ligar inovadores e investidores americanos com os seus colegas de todo o mundo. Espero voltar a ver muitos de vós em Lisboa.
Portanto, nós conseguimos ligar aqueles que têm grandes ideias a pessoas com experiência ou capital que permitam tornar essas ideias realidade. A próxima coisa que o governo pode fazer é reduzir a burocracia. Pode parecer contraditório, mas temos noção de que burocracia desnecessária é o inimigo mortal do sucesso económico. E por isso, tentamos todos os dias proporcionar serviços públicos cruciais mais rápidos, mais eficazes e a um custo menor.
Disse anteriormente que iria falar sobre o acordo comercial entre os EUA e a UE – o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, mais conhecido como T-TIP, da sigla em inglês. Deixem-me começar por destacar a sua grande importância. Este será, de variadas maneiras, o maior acordo de comércio e investimento alguma vez feito. Os Estados Unidos e a União Europeia já têm a maior relação comercial bilateral do mundo.
Se forem ver os bolsos de qualquer pessoa nas ruas de Lisboa, irão encontrar um iPhone ou um Android. Se olharem para as pessoas que passam na rua em frente deste hotel, vão ver roupas da Zara ou H&M. Até sem o T-TIP, nós já comemos comida uns dos outros, vestimos roupa uns dos outros, e guiamos os carros uns dos outros. Portanto, este acordo tem o propósito de facilitar o que nós já fazemos. Isto é um melhoramente de senso comum para a nossa relação económica. Na verdade, o mais importante desde acordo não é eliminar direitos aduaneiros, mesmo que ainda haja muito trabalho a fazer nessa área. O que é mais necessário ainda é a cooperação para eliminar barreiras reguladoras. As empresas são impedidas de ingressar em novos mercados quando os seus produtos são sujeitos às exigências de registo duplicado e a regulamentos contraditórios. Em termos de custo é simplesmente proibitivo e o impacto recai desproporcionalmente sobre as PMEs.
O T-TIP está a sentar à mesma mesa os reguladores dos Estados Unidos e da União Europeia para estes chegarem a uma maneira de cooperar e simplificar todo o processo. Dos padrões automóveis, a equipamento médico, têxteis e vestuário, não há quase nenhuma indústria que o T-TIP não cubra.
Estamos a fazer os possíveis para fechar as negociações deste acordo até ao fim de 2016. Quanto mais rapidamente o conseguirmos, mais rapidamente as empresas dos dois lados do Atlântico vão poder aproveitar os seus benefícios. E como afirmou o negociador principal dos EUA, existem todos os motivos para a Europa ter isto concluído enquanto o Presidente Obama está em funções porque a retórica dos candidatos que o procuram substituir não é tão apoiante. Ao mesmo tempo que fechamos o T-TIP, continuamos a defender as nossas empresas na Europa. Em Fevereiro, os EUA e a UE revelaram um novo mecanismo para a transferência de dados através do Atlântico, chamado “Private Shield”. O “Private Shield” é benéfico para a privacidade e para o comércio, e vai eliminar a incerteza de milhares de empresas europeias e americanas que dependem destas transferências de dados para operar.
Num contexto mais amplo, continuamos a pressionar por uma Internet aberta e mais segura, nos Estados Unidos e em todo o mundo. E é justo mencionar isto em Austin sendo uma das cidades mais ligadas à internet do mundo. O facto é que a internet hoje em dia é parte de quase tudo o que fazemos. É por isso importante para todos nós saber como a tecnologia é usada, e como é que é regulada.
Queremos manter a Internet aberta, fiável, interoperável e segura. Tomamos isto como um dado adquirido, porque já se verifica em praticamente todo o território dos Estados Unidos. Mas a realidade é que existem actores estatais e não estatais que estão tentar activamente minar um ou todos estes elementos. Alguns países – e vocês conhecem-nos – tentaram repetidamente tornar a internet propriedade de entidades governamentais. Simultaneamente, os hackers – solitários ou em grupos apoiados pelos estados – estão constantemente a sondar, a testar, as defesas das nossas infra-estruturas e sistemas de informação.
Em primeiro lugar, os Estados Unidos defenderam na ONU e noutras instâncias a chamada abordagem ‘multi-stakeholder” de regulação da internet. Isto significa que, no que diz respeito a estabelecer regras para novos padrões técnicos em todo o mundo, todos devem participar – o sector privado, as ONGs, académicos, engenheiros e, claro, os governos também.
Está em curso uma batalha para manter este modelo, e continuamos a chocar com alguns estados que prefeririam que os governos detivessem o monopólio da decisão.
No que diz respeito ao cibercrime, estamos a promover a estabilidade cibernética internacional. O objectivo é criar um clima em que todos os estados possam disfrutar dos benefícios do ciberespaço. Queremos que as regras básicas do mundo real se apliquem ao ciberespaço: actos de agressão não são aceitáveis. Os países atingidos têm o direito a responder de forma apropriada e proporcional, para evitar que inocentes sejam lesados.
Ao mesmo tempo que lutamos contra governos maliciosos, existem outros grupos, como organizações criminosas, burlões e ladrões, que aproveitam a internet para prejudicar pessoas. É por isso que precisamos de uma resposta comum para mantermos a internet segura.
Deste modo, a melhor via de cooperação internacional para combater o cibercrime é a “Convenção de Budapeste”, um enquadramento legal que define o cibercrime e procedimento legal. Quanto mais países assinarem, melhor. Apoiamos também a rede “G-7 Vinte e Sete”, que permite que a polícia e procuradores de mais de 70 países peçam assistência em investigações a este tipo de crimes.
Assim, desde promover o comércio e empreendedorismo até lutar por uma internet aberta e segura, o governo pode ter um papel importante e útil. Queremos que as nossas empresas tenham sucesso e, como podem ver, estamos a fazer muito para que tal aconteça.
Mas eu sei que no sector privado, e especialmente no sector tecnológico, muitos acreditam no oposto. Que nós somos apenas obstáculos. E com toda esta conversa acerca do T-TIP, GES, PMEs, ou qualquer outro acrónimo que tenham ouvido hoje, consigo compreender que, por vezes, não comunicamos da forma mais eficaz. Mas, como o Presidente Obama disse aqui em Austin há apenas dois meses, parte do problema é o facto de quando o governo faz grandes coisas, nós tomamo-las por garantidas. Não cria “tendência” nos media.
Algumas pessoas podem duvidar do que digo. Mas eu sei que essas mesmas pessoas provavelmente consultaram a meteorologia nos seus smartphones. Bem, ao que parece há satélites governamentais e estações meteorológicas que facilitam isso.
Estas mesmas pessoas recebem informação actualizada sobre o trânsito ou recomendações para restaurantes graças à tecnologia GPS desenvolvida pelo exército norte americano, tudo enquanto usam uma internet ainda sustentada numa estrutura construída e protegida por recursos governamentais. Como o Presidente disse na altura, “Todos os dias, o governo está a prestar um serviço a toda a gente nesta sala”.
E a boa notícia é, nós estamos mesmo aqui para ajudar. Perguntem ao Elon Musk. No mês passado, como provavelmente leram, a sua companhia SpaceX foi bem sucedida na aterragem do foguetão Falcon 9 numa plataforma marítima no Oceano Atlântico, depois de ter ido ao espaço. E há poucos dias ele fê-lo de novo.
Foguetõess reutilizáveis como o Falcon 9 vão reduzir o custo das entregas espaciais de dezenas de milhões de dólares cada para apenas algumas centenas de milhares. O evento foi um verdadeiro feito de engenharia, assim como um produto da inteligência e “raw drive” da autoria de Musk. Mas o que se calhar não sabem é que a SpaceX nem sempre foi bem sucedida.
De 2006 a 2008, a empresa só teve sucesso num dos quatro lançamentos dos seus primeiros foguetões, o Falcon 1. No final de 2008, a empresa estava à beira da falência, gerando poucas receitas enquanto queimava dinheiro com todos os foguetões que falhavam e com os custos do desenvolvimento de novos.
Por conta própria, tendo já esgotado os seus próprios fundos e empréstimos pessoais feitos a amigos, esse período marcou as horas mais negras do pior ano de sempre da vida do empreendedor em dificuldades financeiras. Ele precisava de um milagre.
Depois, dois dias antes do Natal de 2008, esse milagre aconteceu. A NASA, anunciou que iria adjudicar à SpaceX um contrato avaliado em 1.600 milhões de dólares para 12 voos de reabastecimento da estação espacial. Ficou famosa aquela passagem de Musk se ter desfeito em lágrimas assim que recebeu a notícia de que o governo tinha salvo a sua empresa.
Em suma: o governo pode fazer parte de uma mudança positiva, reunindo e canalizando pessoas no sector privado para enfrentarem alguns dos nossos maiores desafios. Vocês têm o poder da inteligência. Nós, no governo, temos os meios. Juntos podemos fazer muito pelo futuro do mundo. Obrigado.
Obrigado.