Dr. João Faustino, obrigado pelas suas palavras e por toda a informação sobre a Marinha Grande e a indústria de moldes.
Senhor Presidente da Câmara, também lhe agradeço por me ter recebido aqui na sua bela cidade. Estou deveras impressionado com esta região e não é só porque se trata da capital europeia da indústria de moldes. Li há dias a história de uma família de refugiados do Iraque que veio para a Marinha Grande para iniciar uma nova vida. Começaram por aprender português e agora trabalham numa fábrica de vestuário local. Para mim, este é um bom exemplo do que Portugal tem de bom, de como as comunidades abrem os braços – em vez de fechar os corações – àqueles que estão nas maiores dificuldades.
Senhora Secretária de Estado, percebo porque é que tem tanto orgulho na sua região. Aplaudo a forma como o governo e a população de Portugal abordam a crise dos refugiados e é com muito gosto que aqui me encontro hoje.
Os meus agradecimentos vão também para o Dr. Oliveira, Dr. Tocha e todos os membros do CENTIMFE por promoverem este encontro para debater as oportunidades de negócio transatlântico dos próximos anos.
Quando eu era rapaz houve um filme – “A Primeira Noite” – em que um jovem Dustin Hoffman que tentava encontrar o rumo depois da universidade ouvia o conselho “uma palavra: PLÁSTICO”. Parece-me que a Marinha Grande já sabia o segredo. E acho isso fantástico.
O sector da indústria de moldes em Portugal é reconhecido mundialmente e todos vocês tiveram um papel decisivo para garantir esse sucesso. E não tem sido fácil. Nos últimos 30 anos o mercado global sofreu grandes alterações e vai continuar a ser assim nos próximos 30. Mas vocês têm-se adaptado e singrado e há 8.000 cidadãos que vos estão gratos por terem emprego.
Sei que o mercado norte-americano já representou uma maior fatia do vosso sucesso. Não preciso de dizer o que se passou com a indústria transformadora dos Estados Unidos ao longo das três últimas décadas. Mas a indústria americana está a recuperar. Os custos de produção estão a descer, os custos da energia estão a descer, o dólar está forte e acho que um futuro brilhante está aí para as parcerias entre Portugal e Estados Unidos na indústria dos moldes. E o tempo de agir é agora!
A indústria automóvel americana está em alta e não há razão para que os moldes que vocês fabricam para a Mercedes, Volkswagen e BMW não possam ser usados pelos carros da Ford, Chrysler e G.M. A qualidade é importante para essas empresas e os vossos produtos são de qualidade.
Estamos agora a trabalhar num acordo, a Parceria Transatlântica para o Comércio e Investimento – ou TTIP – que visa derrubar barreiras e construir pontes para o comércio entre os Estados Unidos e a Europa, em especial para as pequenas e médias empresas que são a base das nossas economias.
A relação comercial entre os Estados Unidos e a UE é a maior e mais bem sucedida do mundo, mas persistem algumas barreiras desnecessárias entre nós a nível do comércio e investimento que em nada protegem os consumidores, os trabalhadores ou o ambiente mas, pelo contrário, aumentam os custos e limitam a escolha do consumidor.
O TTIP é uma oportunidade de consolidar e expandir a nossa relação de modo a responder às necessidades do século XXI. Tal como as vossas empresas se têm de adaptar às mudanças climáticas da economia também temos de modernizar as relações comerciais entre a UE e os EUA.
Podemos com bom senso desenvolver um sistema que seja mais eficaz, mais razoável em termos de custo e mais acessível às pequenas empresas dos EUA e de Portugal garantindo ao mesmo tempo o alto nível de protecção actual de consumidores, trabalhadores e ambiente.
O facto é que a espinha dorsal da economia dos nossos países são as empresas de pequeno e médio porte. Melhoramentos feitos com bom senso podem ter um impacto significativo. Passam a utilizar melhor os recursos de que dispõem, a poupar tempo e dinheiro, a eliminar processos de duplicação, a permitir aos reguladores que dediquem mais do seu tempo a desafios de maior risco para a saúde, segurança e outras preocupações de âmbito público e simplificar o comércio para que mais americanos e europeus, incluindo os portugueses, possam exportar.
E, no fundo, um comércio simplificado ajuda as nossas economias, leva a mais exportações, ao crescimento das empresas e empregos mais bem remunerados. Nos últimos anos, registou-se um crescimento nas nossas relações comerciais e é com muito gosto que me refiro ao que o Instituto Nacional de Estatística publicou no mês passado – os EUA são actualmente o maior parceiro comercial de Portugal fora da zona Euro e o quinto maior mercado de exportação no geral. Isto representa um aumento de 22% em apenas um ano, mas ainda há muito espaço para crescer.
A combinação de um sector industrial americano em crescimento, tarifas mais baixas e menos burocracia podem trazer novos mercados de exportação para os vossos produtos nos EUA e para os nossos produtos em Portugal e noutros pontos da Europa.
Os estudos provam que este acordo é uma situação vantajosa para ambas as partes. Mas não se trata apenas de fazer crescer o nosso negócio. Isto é também para garantir que as regras do comércio global que vos afectam na Marinha Grande assentam em princípios de sã concorrência e mercados abertos que vocês dominaram sem qualquer dúvida.
Há modelos de concorrência para estabelecer as regras do comércio global do futuro. A escolha é nossa: Juntos vamos normalizar ou ser normalizados? Vamos dirigir ou ser dirigidos? Americanos e europeus têm no TTIP uma oportunidade de imprimir os seus valores democráticos no comércio global do futuro. E através do TTIP podemos fazê-lo incentivando os países a pagar salários justos, a ter segurança no local de trabalho, a proteger a saúde e a segurança do consumidor e a reforçar as leis ambientais que ajudamos a estabelecer. Os EUA e a Europa é que deviam definir as regras da estrada, com base no nosso compromisso mútuo de práticas comerciais justas e transparentes, direitos laborais fortes, protecção obrigatória do ambiente, segurança alimentar, direitos de propriedade intelectual que encorajem o empreendedorismo e a segurança do consumidor.
A abertura, transparência e o estado de direito são as pedras basilares da nossa democracia, estabilidade, eficácia e saúde económica a longo prazo. A nossa abordagem tem sido boa para as nossas economias. Não é universal esta ideia, mas o acordo oferece uma oportunidade de partilhar e promover esta visão a nível global.
A UE enfrenta desafios dentro e fora do seu território: um crescimento lento e desequilibrado, uma taxa de desemprego persistentemente alta, em especial entre os jovens – como Portugal bem sabe; a maior crise de refugiados em décadas, como discutimos; turbulência na sua periferia que suscita legítimas preocupações com segurança energética e questões fronteiriças há muito instaladas; e dúvidas fundamentais sobre a composição e natureza da própria União Europeia. Nestes tempos de desafio, a razão estratégica do TTIP tornou-se ainda mais forte: a diversificação dos mercados, reforço da segurança energética e sobretudo um maior vigor nas relações transatlânticas.
Os acontecimentos recentes sublinharam a importância dos valores que partilhamos – democracia, tolerância, estado de direito – e que estão debaixo de ataque quase diariamente. Este acordo não envolve apenas comércio e investimento; é uma escolha geoestratégica para fortalecer os laços transatlânticos que unem duas regiões que comungam dos mesmos valores e padrões.
O TTIP representa a oportunidade de defender a estabilidade em tempos turbulentos, a previsibilidade em tempos de incerteza e padrões democráticos em tempos de maior concorrência com modelos alternativos, menos abertos, transparentes e justos.
O maior ganho estratégico podia vir do facto de os EUA e países como Portugal trabalharem juntos no contexto do TTIP para moldar um mundo em rápida mudança. Mas o sucesso ou falhanço do TTIP depende em última análise do apoio do público.
Termino por isso com um apelo ao CENTIMFE e aos seus sócios. Vocês são os maiores interessados e os que mais beneficiarão da abertura de mercados. É por isso que, como interessados, se devem envolver na discussão do TTIP. A vossa voz é essencial para garantir que os vossos clientes, fornecedores e empregados sabem o que é o TTIP e têm consciência da sua importância. Com o apoio de organizações como o CENTIMFE podemos construir um futuro melhor para o comércio entre Portugal e os Estados Unidos.
Obrigado.