Celebração da Independência dos E.U.A.

Bem-vindos e boa noite.

A Kim e eu estamos encantados por estar em Portugal, nesta noite belíssima e num país maravilhoso a celebrar o nosso dia nacional. E estamos muito gratos pela vossa presença. Gostaria também de dar uma palavra de agradecimento aos nossos patrocinadores cuja generosidade fez com que fosse possível realizar este evento bem como aos elementos da banda da Força Aérea americana na Europa – Touch ‘n Go. (Tão bons como os Rolling Stones)

Em nome do Presidente Obama, do povo dos Estados Unidos da América e da Embaixada Americana em Lisboa, é com muita honra que vos vou falar do significado deste dia – que comemora não um nascimento, nem mesmo um evento, mas antes um ideal. O ideal da liberdade.

Sou com muito orgulho natural de Massachusetts, onde a nossa revolução começou, portanto as raízes da liberdade do meu país têm um grande significado para mim. Alguns de vocês sabem provavelmente algo sobre a nossa revolução como, por exemplo, que marcou a nossa independência do rei britânico.

Mas talvez não saibam que também assinala o início da uma forte amizade entre os Estados unidos e Portugal quando Pedro Francisco, um jovem de 16 anos natural dos Açores, se juntou como voluntário ao exército continental de George Washington na luta pela liberdade. Foi um soldado destemido e herói de muitas batalhas apesar de muitas vezes ter sido ferido. Para comemorar os feitos de Pedro Francisco, foram erguidos monumentos em sua honra na Virgínia, Nova Jersey e Massachusetts para além de um selo postal por ocasião do bicentenário da Revolução.

A amizade entre os nossos países – Estados Unidos da América e Portugal – percorre a história do meu país. Essa amizade deriva não apenas da interacção entre os nossos povos, embora tal seja relevante, mas por um conjunto de valores que partilhamos.

E ao celebrarmos o 238º aniversário da nossa revolução quando Portugal celebra o 40º aniversário da Revolução dos Cravos, olhamos para a nossa Declaração de Independência e vemos os valores comuns que despoletaram as duas revoluções e que até hoje mantêm os dois países unidos.

No dia 4 de Julho de 1776, a nossa Declaração foi lida em voz alta pela primeira vez em público. A majestade do documento provem do facto de que declarava, não apenas ao povo das treze colónias americanas mas ao mundo que as liberdades não são dadas ao povo por um monarca ou mesmo um governo. Em vez disso, os nossos Pais Fundadores reconheciam que as pessoas têm direitos naturais. Escreveram: ”Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade.”

A nossa Declaração mantém-se como uma afirmação ao mundo, porque contém não apenas uma lista das nossas razões de queixa contra o rei, o que faz, ou a formulação dos nobres ideais de que acabei de falar, mas porque apela à acção todos aqueles que vivem oprimidos no mundo.

Os nossos Pais Fundadores reconheceram que governos há muito no poder não deviam ser mudados por razões ligeiras e passageiras e tinham em conta que é da natureza humana sofrer os males de um governo opressivo desde que tolerável em vez de mudar aquilo a que se está acostumado. Declararam, no entanto, que a procura da liberdade e democracia por um povo é sempre justificada; e para tal empenham “as suas vidas, os seus bens e sua sagrada honra”. Como nação nós fizemo-nos não a partir daquilo que nos distingue dos outros, mas daquilo que temos em comum, independentemente das diferenças de geografia ou história. O Presidente Obama deu voz a estes sentimentos ao dizer: “A nossa fundação assenta no ideal de que todos somos criados iguais e derramámos sangue e lutámos ao longo de séculos para dar um significado a essas palavras – dentro de fronteiras e por todo o mundo. Nós somos formados por todas as culturas, desenhados por todos os cantos do mundo e dedicados a um simples conceito: E pluribus unum, um entre muitos.”

No nosso país o caminho para garantir essas liberdades não foi fácil. Os americanos passaram por uma terrível guerra civil, uma campanha com muita desunião sobre o direito das mulheres a votar e uma contínua e esgotante luta pelo estabelecimento de direitos civis para todos os nossos cidadãos. Com efeito, no seu discurso “Tenho um Sonho” em Washington, Martin Luther King disse que os arquitectos da nossa república ao escreveram essas magníficas palavras na Declaração de Independência “assinaram uma nota promissória de que todo o americano seria herdeiro”.

Já acabaram as nossas lutas? Acho que não. Desde que somos uma democracia que sempre nos debatemos pelo alargamento adequado das nossas liberdades. Mas a nossa história demonstra que para a nossa sociedade o arco da justiça inclina-se sempre para a igualdade. Estes debates vão continuar porque, como nos ensina Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

O conceito de liberdade e o direito a autonomia como estipula a nossa Declaração de Independência continua, 238 anos depois, a ser a força mais poderosa no mundo de hoje. Em todos os países do mundo abalados por uma revolução – incluindo a Revolução dos Cravos há 40 anos aqui – tem-se registado uma resistência activa do governo a esses princípios. E se houver um único motivo que una todo o povo, seja na Europa, África, Ásia ou Américas isso é o toque para a liberdade e igualdade.

Mas no mundo em que vivemos também há aqueles que tentam negar-nos os valores que tanto prezamos. São os jihadistas nos acampamentos das montanhas do Afeganistão que procuram fazer de inofensivos aviões de passageiros mísseis letais; são os extremistas treinados para combate na Síria que regressam como terroristas aos países da Europa Ocidental. São figuras de estado que acreditam que matar outros porque assim o determina a sua crença é um chamamento divino. Garantir as nossas liberdades já não é apenas uma questão de interesse nacional. Proteger os nossos direitos comuns e inalienáveis é responsabilidade de todas as nações que vivem em liberdade.

Há meio século, no dia 4 de Julho em Filadélfia, o Presidente Kennedy proferiu um discurso cujo significado continuar a ecoar no palco internacional. Declarou que a era da independência nacional tinha passado para dar lugar à interdependência internacional – o que ele chamou não de liberdade individual de um mas a liberdade indivisível de todos. E apelou ao estabelecimento de uma parceria do Atlântico, com vista a uma Europa unida como parceiro igual para os Estados Unidos naquilo que chamou ”todas as grandes e pesadas tarefas de construir e defender uma comunidade de nações livres”.

Há cinquenta e dois anos, o Presidente Kennedy reconheceu que, agindo sozinho, os Estados Unidos não conseguiriam levar a justiça a todo o mundo, nem tampouco garantir a tranquilidade doméstica no país. Só trabalhando em conjunto com países de mentalidade semelhante à nossa, conseguiríamos atingir um poderoso dissuasor da agressão e chegar a um mundo de estado de direito e livre escolha. Hoje nós americanos, com os nossos amigos de Portugal e de outros pontos do mundo, celebramos nesta Embaixada os nossos ideais comuns.

Ao fazê-lo, é bom recordar que neste século a chamada não é para declarar independência uns dos outros, mas para abraçar a nossa interdependência, unidos pela causa da liberdade e democracia em todo o mundo.

Deus vos abençoe e Deus abençoe os Estados Unidos e Portugal. Obrigado e agora divirtam-se.